2.6.11

QUEM GANHA COM A RUÍNA DO PELOURINHO ???

QUEM GANHA E QUEM PERDE COM A RUÍNA DO PELOURINHO?
José QUEIROZ é guia e pesquisador de turismo, administra o blog turismoreceptivo.wordpress.com

No livro A Manipulação do Público, escrito em conjunto por Noam Chomsky – um dos principais intelectuais da atualidade, norte americano, 84 anos - e Edward S. Herman, em 2003, os autores apontam as principais estratégias de controle da opinião pública pelas elites, e uma delas consiste em deixar uma situação chegar ao extremo para que um político, ou um partido, apareça como salvador, como herói. Será este o caso do Pelourinho, principal atrativo de Salvador, Patrimônio da Humanidade, e um dos principais símbolos que atraem turistas para o Brasil? O Pelourinho foi mundialmente divulgado por Jorge Amado, atraiu o turismo, trabalho, renda, impostos, e por isto, e pela proximidade do centenário de nascimento do escritor, em 2012, merece mais respeito. Mas terá que esperar a próxima eleição?

Na transição da economia do Estado monárquico absolutista para o Estado capitalista, houve alianças com a intenção de proteger os interesses de todos os lados, o que é compreensível e comum até hoje, assim como houve, ao longo do tempo, resistência e criação de mecanismos para evitar os abusos contra a sociedade, apesar das limitações de informação e comunicação. Hoje, por mais simples que seja o cidadão, ele sabe que o país não está bem, apenas o político brasileiro acredita em suas palavras e números. Na prática continuamos sem escola, saúde, com a segurança agravada pelos maus exemplos dos políticos, e cada vez mais sem trabalho, graças a esta variante perversa do liberalismo econômico.

O Pelourinho foi irresponsavelmente sacrificado por este jogo político herdeiro da mentalidade colonialista, segundo a qual cada um cuida do que é seu e ninguém cuida do coletivo, e pela forma desequilibrada como se faz turismo no Brasil. A falta de fiscalização, manutenção e segurança permitiram a invasão dos casarões abandonados, nos últimos cinco anos, por gente de todo tipo, afastando os baianos e os turistas que tinham voltado a freqüentar o lugar na década de 90 – e isto não se apagará da memória das pessoas! – comprometendo irremediavelmente alguns edifícios, e gravemente a economia e o turismo do município. Dessa vez todos concordam que a culpa “foi do governo anterior”, o mesmo que está aí, no Estado e na Prefeitura.

O governante é eleito para gerenciar os interesses do povo, não para reparti-lo entre si, tem que gastar com as prioridades, é lei, não onde quer e com quem quer. Nos últimos cinco anos o Ministério do Turismo, Governo da Bahia, Secretaria de Turismo e BNDES investiram em vários lugares no estado da Bahia – agora mesmo estão investindo num mega empreendimento espanhol em Baixios, Esplanada, Linha Verde, há 150 km do Centro de Salvador – mais não investiram nada no Pelourinho, que é prioridade porque é o que atrai turistas para toda a região, e para o Brasil! Seguramente o baiano não tem nada contra os investimentos, pelo contrário, que venham todos, é sinal de desenvolvimento sim, principalmente se forem feitos pelos grupos brasileiros, para que o dinheiro fique aqui, e não seja expatriado. Mas que o dinheiro seja do investidor, e não do povo!

Isto acontece por vários motivos. No caso do Pelourinho, porque não há interlocutor da Prefeitura do município nem do Governo do estado, já que a Saltur, órgão oficial de Salvador, não cuida dos interesses do lugar, e a Superintendente de Serviços Turísticos da Secretaria de Turismo da Bahia, Cássia Magalhães, não atende às necessidades do Centro Histórico, além de Salvador e outros municípios não possuírem secretaria de turismo, que seria a representação do turismo receptivo e dos atrativos, que ainda está atrelado à ABAV, que cuida de exportativo, não de receptivo. E ainda porque o turismo receptivo do Brasil não é profissionalizado, não tem instituições de classe e vive à margem da indústria turística do país, não é consultado, não opina.

111 casarões estão ameaçados, 29 dos quais em situação de alto risco! 170 lojas já fecharam no Pelourinho e oito ruas são desaconselhadas pela Polícia. A população indigente é numerosa, mendigos, viciados, traficantes e ladrões que assustam, constrangem e repugnam, afastando os freqüentadores baianos e turistas,  deixando uma péssima imagem da cidade, do povo e do Brasil, afinal, o Pelourinho é um centro turístico internacional, e a situação atual complica a imagem do turismo do país. Além disso, o assédio de vendedores ambulantes invade a privacidade das pessoas, constituindo outro problema de segurança nas ruas do Centro Histórico. A degradação física e social é grave, e necessita de esforços de toda a sociedade baiana e brasileira para recuperá-lo, já que os governos da cidade e do estado não conseguem.

Ninguém quer ir ao Pelourinho! Os números não correspondem a realidade do turismo de Salvador que não está mais nem entre os cinco principais destinos do país, pois o turista foi levado para outros lados, ou deixou de ir por falta de segurança e privacidade, e comprometeu seriamente a cadeia do turismo. Negócios pararam e pessoas estão desempregadas ou endividadas, depois de 20, 30, 40 anos dedicados ao turismo. Além disso, o baiano que poderia usufruir, investir e incrementar a economia do lugar, não o faz. Pelo mesmo motivo do turista, principalmente acesso, estacionamento, limpeza, iluminação e segurança. A juventude de Salvador não pode curtir o Pelourinho, apesar da cidade está carente de opções noturnas.

Dia 10 de junho! Dia da Audiência Pública, dia do Basta! A Acopelô – Associação dos Comerciantes do Pelourinho -  vai dar o primeiro passo para exigir responsabilidade de governantes e da indústria do turismo, o que não é suficiente, pois vai ser elaborado um Requerimento de Ações, de comum acordo com os demais setores, e que será cobrado. O Brasil que vai sediar a Copa e a Olimpíada precisa discutir o turismo interno, pois o Pelourinho é apenas a primeira vítima desse modelo que visa o lucro, o que é legítimo, mas que não pode ser à custa do sacrifício da sociedade.

É preciso ter profissionais e instituições fortes cuidando do turismo interno e o país ignora absurdamente os turismólogos, as pessoas efetivamente preparadas para conectar os interesses, administrar, fiscalizar, dar qualidade e garantir a satisfação e o retorno dos turistas, assim como mais lucro para os próprios investidores, e desdenha os guias de turismo ao não aprovar o conselho da categoria, enquanto improvisa pessoas que não terão condições de dar um bom atendimento nos eventos, nem serão capazes de sustentar o turismo do Brasil. BASTA!

O PELOURINHO PRECISA URGENTEMENTE:

- REPRESENTAÇÃO POLÍTICA, Salvador precisa de uma secretaria de turismo urgente, ocupada por técnico, e extinção da Saltur;

- ISOLAMENTO DOS CASARÕES e vigilância para que não entre mais ninguém, do 2 de Julho ao Pilar, do Santo Antonio à Saúde, Baixa dos Sapateiros e Independência;

- DAR ASSISTÊNCIA A QUEM NECESSITA, como manda a Constituição, retirar menores, mendigos, doentes, loucos e dependentes químicos das ruas;

- LOCAL PARA OS VENDEDORES DE COLARES, pois alguns assediam, incomodam, tiram a tranqüilidade, imploram alegando fome e outras necessidades, constrangendo profundamente as pessoas. É uma autêntica tortura! E alguns agridem verbalmente quem não compra. É muito fácil comprovar, basta acompanhar, gravar e filmar;

- DAR INCENTIVO para escolas de música, dança, artes em geral e faculdades de turismo e letras se instalarem no Centro Histórico, para dar movimentação ao lugar;  

- E O QUE TODOS SABEM, limpeza, iluminação, sinalização, facilidade de acesso, estacionamento, principalmente ônibus para o baiano freqüentar o lugar e dar originalidade, SEGURANÇA e, sobretudo, ATITUDE, RESPEITO E SERIEDADE.
 

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