3.6.11

Pelourinho - TURISMO NA BAHIA: PARA GRINGO VER

A má intenção dos números                                                                                                                                                                                           
                                                                                             José QUEIROZ

É impressionante como o governo acredita e se deslumbra com os números criados por ele mesmo, e acredita tanto que faz festa e gasta por conta, acintosamente. Não tem como não se indignar! No que se refere ao turismo, quando acompanhamos o dia a dia do governo, vemos pessoas desqualificadas tecnicamente, incapazes de criar métodos para aperfeiçoar o turismo, mas capazes de criar métodos para gastar o dinheiro que circula por ali. Não há um plano nacional, busca-se idéias. Esses próximos 04 anos serão, talvez, os mais difíceis para as finanças do país, e não será por falta de dinheiro, e sim por excesso.
Olha o caso da Fonte Nova, apenas para ilustrar, vai custar mais de R$ 500 milhões. Quem vai pagar? Os financiadores de campanha dos partidos políticos? Os times de futebol? A Fifa? A CBF? Ou seremos nós da cidade que, assim como as outras, necessitamos de tudo que é básico? Estamos com dinheiro sobrando mesmo? Dinheiro que seria suficiente para várias escolas formarem os jovens que não podem ocupar as tais vagas do mercado de trabalho que existem por falta de pessoas preparadas? Que poderia ser injetado nos hospitais e garantir a saúde do nosso povo? Que poderia nos dar segurança? Sem falar em outras utilidades para esse dinheiro, e outro tanto que está por aí.
Não sou contra a realização da Copa, nem da Olimpíada, também gosto de esportes e festa, como o governo sabe, e se aproveita. Só não consigo calar vendo o turismo mal conduzido, nós “no prejuízo” e sabendo que é justamente ele que vai ser usado para enriquecer mais um punhado de aproveitadores da vida pública. Por isto a minha intenção de alertar os companheiros da atividade e as demais pessoas que trabalham em setores relacionados com o turismo, para que também aproveitem este momento, não para coisas erradas, é claro, e sim para se manifestar, protestar, cobrar, barganhar, desenvolver o turismo e usufruir dele sempre, e não apenas durante estes eventos. É agora ou nunca!
É muita mentira, muita manipulação dos fatos e muita desonestidade que governa nossas vidas. Se não vejamos: há um mês foi informado que o Ministério do Turismo tinha sete bilhões para este ano, para todo o Brasil, e logo em seguida foi publicado que o país investiu R$ 6,67 bilhões no ano passado, um aumento de 500% desde 2003, mas a maioria dos hotéis da primeira capital do Brasil está superada ou decadente, não temos serviço de praia, o Pelourinho está daquele jeito e não temos Secretaria de Turismo.
Há uma semana foi informado pelo secretário da Casa Civil do município de Salvador que havia quatro bilhões do PAC disponíveis para a cidade, mas a seguir eu escutei no noticiário que não havia dinheiro para completar as obras do estádio, para a reforma das avenidas e para o metrô, no entanto o governador Jaques Vagner está criando – pasmem! – uma “Secretaria Internacional”.
Estamos com o fluxo de turistas comprometido pelos resorts e cruzeiros, mas foi publicado esta semana que Salvador teve 72% de ocupação dos hotéis em março, número baseado no Carnaval, e ainda que recebemos no último verão da Bahia seis milhões de turistas, mais que o Brasil todo recebe de estrangeiros durante o ano; e que milhares e milhares de empregos seriam criados durante o evento, ou seja, por um mês.
É para ficar zonzo, não é? Consideram-nos analfabetos ou desinformados, preguiçosos ou medrosos, no mínimo acomodados ou coniventes, e somos! Tanto eles quanto nós nos damos ao luxo de prescindir do lazer na praia, da vida sócio-cultural do Pelourinho, dos benefícios do turismo, e até da nossa segurança! Temos tudo, moramos bem, não falta nada para nossos filhos, quem se importa com a miséria de 100 milhões de brasileiros?
Esse quadro contrasta com a imagem que temos do turismo, não é? Mas é real e compromete a atividade, como já comprometeu em Salvador e em outros municípios da Bahia. Itaparica, para quem não sabe, está arrasada, tem dois municípios que somados não dá um, nem turista nem baiano quer ir lá, o ferryboat, a sujeira, e a falta de segurança condenaram os moradores ao desemprego, ou a penosa tarefa de cruzar a Baía de Todos os Santos todo dia para trabalhar em Salvador.
O Recôncavo Baiano e seu entorno, suas cidades e sua gente histórica e heróica, culturalmente um dos lugares mais interessantes  e importantes da América Latina, é também um dos mais miseráveis, há gente que trabalha para comer e dormir, se alimenta da terra e se cura com chás e rezas, mas nos fizeram acreditar que estamos no paraíso, só precisamos de festa e sexo; Mangue Seco é um pedaço autêntico “da nossa pátria, mãe gentil(?)” ou parece uma daquelas “quengas” apaixonadas que por um tempo, dá, dá, dá, só dá, sem receber nada em troca, até se acabar, pois o lugar não tem assistência nenhuma,  de nada, de ninguém, do turismo, do município, da Bahia, de Sergipe, nada, ninguém!
Quantos baianos conhecem o Baixo Sul, a Chapada Diamantina, Paulo Afonso, ou mesmo Porto Seguro? Pois é, vivemos num estado imenso, riquíssimo em atrativos naturais e históricos, com exatamente dez localidades turísticas consagradas internacionalmente, mas que não estão conectadas e acessíveis às pessoas que vivem no estado e às que nos visitam, apesar de que alguns vão dizer “estão sim”, e eu concordo, mas é para aventureiros.
O governo prepara, revela e explora o atrativo com os empreendedores locais, que em muitos casos são apadrinhados, ou de outros lugares e muitos são estrangeiros, como é o caso dos resorts e dos cruzeiros, deixando para baianos e visitantes poucas opções, ou seja, desperdiçando atrativos, potencial econômico e condenando a população desses lugares a serem simples figurantes da vida, servis, a viver para que outros tenham vida. Qualquer semelhança com escravidão, não é mera coincidência!
O turismo necessita de um ambiente saudável, se beneficia dele e tem obrigações sociais, pois ele não será bom em lugar nenhum, que não esteja bom. Essa é a nova tendência, turismo consciente, profissional, limpo e seguro. Nós somos amadores sim, principalmente por não nos envolvermos. O Ministério do Turismo é um dos mais corruptos do Brasil, tem vários processos contra a EMBRATUR e o MIn Tur na Justiça,  inventam-se ongs que levam dinheiro como se fosse água, e levam de outras maneiras também. Porque vocês acham que eles não querem turismólogos? Porque não querem uma categoria forte e organizada politicamente, fiscalizadora, acabando as mordomias.
O resto é desculpa. Uma atividade rica e estratégica como esta não tem profissionais no Brasil, técnica e legalmente falando, porque nosso governo entende que qualquer um pode exercitá-la, outra mentira. Porque não tem curso de turismo em muitas universidades públicas, e algumas particulares desativaram seus cursos depois da regulamentação da Lei Geral do Turismo em 2008? Por vergonha e decência de alguns educadores e dirigentes que não querem continuar lesando e frustrando os jovens que sonham com a carreira. E porque muitas cidades turísticas como Salvador, não tem secretaria de turismo? Por conveniência.

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