26.5.11

Pelourinho - A INFORMAÇÃO NO TURISMO DO BRASIL

A INFORMAÇÃO NO TURISMO DO BRASIL
José Queiroz

O mau uso da informação no turismo do Brasil impede o desenvolvimento da atividade. Ela ainda está restritamente a serviço das operadoras, agências de viagens que compram seus pacotes, hoteleiros, companhias aéreas, publicitários, governo e Abrajet – Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo. Entretanto a maioria desses jornalistas, com raras, lúcidas e honrosas exceções, limita-se a fazer circular a publicidade dos negócios no meio turístico, não cobrem toda a indústria do turismo, e não informam questões relevantes para o próprio empreendedor e para a sociedade.

Os grandes jornais, revistas e canais de televisão também não se deram conta do crescimento da atividade turística e das implicações, informando parcialmente o que acontece. Este equívoco, ou manipulação, causa prejuízo aos próprios negócios! Turismo depende de estudos, informações, estatísticas, respeito às leis e comunicação entre os envolvidos, que não são apenas os citados acima. E quem estuda o turismo e tem estes conhecimentos e soluções são os turismólogos, literalmente ignorados, mantidos à margem das discussões e elaboração de planos e políticas porque o Brasil trata o turismo apenas como atividade econômica, e como tal, qualquer marqueteiro resolve o problema.

Turismo é uma atividade que não sobrevive em condições ambientais e profissionais administradas para a satisfação apenas dos negócios. Um carro pode ser perfeito, um computador, um relógio, mas um pacote de viagem só será perfeito se o lugar visitado e o receptivo também o forem. Não é apenas por monumentos que EEUU, França e Espanha recebem tantos turistas, e sim porque a indústria desses países se deu conta disto há muito tempo, e não vendem lugares que não atendam aos seus clientes da mesma maneira. As companhias de seguro não deixam.

Isto reflete a forma desarticulada como ainda se administra o turismo no Brasil. Todos se especializaram em vender, fazer publicidade, usufruir dos lugares e dos lucros. Há muito tempo o turista cansou de ser levado de qualquer maneira para onde as operadoras e a propaganda quer. A diferença em dinheiro entre o que sai do Brasil e o que entra, se deve também ao fato de que o turista moderno prefere gastar mais com um lugar confortável, seguro e com bons serviços, do que expor-se a riscos e constrangimentos desnecessários. Ele está mais informado, mas por outros meios.

Os números são mostrados como se o turismo fosse uma maravilha para todos, mas não é, pelo menos para o turismo interno, para o qual chega a ser humilhante as cifras que são exibidas. As operadoras sabem dos riscos que oferecem centros turísticos degradados como Salvador e criam outros, como os resorts que aparecem por todo lado, os cruzeiros que viraram moda, ou vendem outros países que atendem às exigências atuais dos turistas, esvaziando cidades inteiras, e caracterizando negligência da União, Estados e Municípios pelo turismo e pelos demais envolvidos. O Brasil tem um potencial inquestionável e pode se tornar uma das potências do turismo mundial, desde que profissionalize o seu turismo interno. Seguramente todos ganhariam mais.

Mas as redes sociais estão fazendo a informação circular mais rápida, volumosa e concreta, e estão propiciando a formação de grupos e opiniões que tendem a definir melhor o papel de cada um na indústria turística, além de cobrar a responsabilidade social, cultural e legal do turismo, e do governo. É a única opção para turismólogos, para os guias de turismo que investem para atender o turista e são constantemente equiparados a trabalhadores braçais, para as agências de receptivo, e para o próprio cliente das operadoras, que buscam alternativas para visitar os lugares que querem e não podem, por causa da imposição dos pacotes e da informação.

A sociedade brasileira precisa do turismo profissionalizado, e não improvisado como está sendo para a Copa e para a Olimpíada, precisa de pessoas capazes de gerar emprego, renda e benefícios para a sociedade, sempre, e não apenas nestes eventos. Turismo não prospera em sociedades tão desiguais como a nossa, agravada pelo amadorismo e informalidade do turismo interno que paga mal, não garante direitos sociais, nem possibilita ascensão. O Brasil vai receber muitos turistas nestes eventos, mas quem decide como será, é quem não conhece, ou finge não conhecer, a indústria e as necessidades do turismo receptivo do país. Ainda está em tempo de mudar.

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