18.5.11

Pelourinho - FACULDADES FORA DAS DISCUSSÕES DO TURISMO

COMUNIDADE ACADÊMICA DO TURISMO AUSENTE DAS DISCUSSÕES
                                                                                                 
                                                                                                           José QUEIROZ


É incompreensível a ausência e o silêncio da comunidade acadêmica do turismo do Brasil, justamente no momento mais propício para sua interferência desde que ela foi criada na década de 70, tendo em vista os preparativos para a Copa e para a Olimpíada e a chance que o Brasil está tendo de discutir, reestruturar e se firmar como potência do turismo mundial, a atividade que mais cresce e absorve pessoas atualmente. O turismo já é a segunda ocupação mais rentável do planeta, dez por cento do PIB mundial, fomenta outras 52 atividades, e emprega mais de 200 milhões de pessoas.

Já são muitas as vozes, veículos e representantes dos diferentes segmentos do turismo, questionando e buscando respostas e soluções para os problemas que atrapalham o crescimento da atividade, entretanto não há um representante da comunidade acadêmica participando das discussões. É mais intrigante ainda porque sabemos que a mão de obra precária é um dos entraves para o desenvolvimento do setor e a não regulamentação da profissão de turismólogo é uma das queixas da comunidade, e um dos empecilhos para a profissionalização definitiva da atividade.

A primeira faculdade de turismo do Brasil foi instalada em 1971, há exatamente 40 anos, e já são cerca de 600, que formaram milhares de pessoas ao longo desses anos, pessoas que estudaram, pagaram, mas não viram a regulamentação da profissão ser aprovada pelo governo brasileiro. O que eles fazem exatamente? São burocratas, gerentes de setores da hotelaria, aviação, ou agências e operadoras, e ainda funcionários públicos ou agentes de viagem. Não interferem na elaboração de política para o setor, nem há parlamentares no Brasil que sejam dessa área.

O Brasil ainda considera o turismo apenas atividade econômica, e como tal o empresariado das operadoras e agências de viagem, que são os que movimentam mais dinheiro e geram mais impostos, e no máximo a Fundação Getúlio Vargas e o Sebrae, decidem pela atividade, apesar de conhecerem apenas administração, economia e publicidade, no que são bons. Mas falta pensar, discutir, planejar e administrar a responsabilidade social e cultural do turismo.

O país é um dos que relutam em considerar o turismo, ciência, e o profissional envolvido, um especialista. A postura do país é a de que qualquer pessoa pode fazer negócio, criar atrativos, elaborar políticas públicas e fazer o atendimento do turista. E não pode! Cada negócio que se faz envolve um destino, consumidores e uma cadeia para concretizá-lo, cada atrativo e cada equipamento necessitam de vários outros profissionais, como em outras atividades, além de muitos trabalhadores para fazê-los funcionar, e o atendimento ao turista é ainda mais delicado. Só por isto não se pode simplesmente explorar um atrativo, esgotá-lo, e criar outro.

Para as operadoras de viagem e para o governo, cujo foco é outro, o problema pode passar despercebido, mas para as centenas de localidades turísticas deste país, não. E é óbvio que a falta de profissionais bem formados e a falta de representação política do setor, que é o receptivo, fazem a diferença. Os símbolos de cada lugar, o atendimento ao turista, a infra-estrutura e segurança, e a publicidade, nessa ordem, é o que movimenta o turismo, atrai o turista e gera benefícios. E aqui vai um alerta!

A falta de profissionalismo coloca em risco os vultosos investimentos que governo e empresários pensam em fazer ou atrair, e os grupos de turismo mais profissionais sabem disso, por isto não vendem. O brasileiro quer viajar para fora do país, mas também quer conhecê-lo, e não o faz mais, por falta desses serviços. A situação atual do turismo brasileiro é parecida com a seguinte: você constrói um lindo restaurante, de frente para o mar, com uma bela decoração, monta um cardápio maravilhoso, mas não investe no cozinheiro ou no garçom, que são vitais para este tipo de negócio. O negócio não funciona, mas não se sabe por que (?).

Pensar que o taxista, o mensageiro, a camareira, o vendedor de picolé, a baiana do acarajé, o motorista do ônibus ou o guarda de trânsito vai resolver o problema da mão de obra do turismo, é falta de profissional para pensar e elaborar políticas. O turismólogo, o guia de turismo, o recepcionista do hotel, a profissionalização do conjunto do receptivo, é mais importante para o turismo do Brasil do que as intermináveis discussões e iniciativas de treinamentos e gastos exorbitantes com  leigos, que a política cambial, e muito mais do que os investimentos em publicidade que não escondem os problemas que brasileiros e estrangeiros sabem que existem.

Por isto aqui fica a pergunta: Onde estão os donos de faculdades, os pioneiros dessa área, pesquisadores, professores e turismólogos deste país, que quer desenvolver o seu turismo? Onde estão as instituições que trabalharam pela regulamentação e que foram formadas para dar legitimidade aos profissionais, como IBCDTUR (Instituto Brasileiro de Ciências e Direito do Turismo) – o recém criado IBT (Instituto Brasileiro de Turismólogos), a ABBTUR (Associação Brasileira de Bacharéis de Turismo), os estudiosos, conhecedores, formadores de opinião, formuladores de política, os conselheiros das 71 instituições que compõem o Conselho Nacional de Turismo, as próprias EMBRATUR, Fundação Getúlio Vargas e Sebrae?

E os guias de turismo? Os sindicatos, a Fenagtur? O guia para ser completo também tem que ter consciência social, tem que colaborar, até para mostrar capacidade para a sociedade, legitimar sua reivindicação do Conselho Nacional de Guias de Turismo, e ocupar o lugar que tem direito e merece na indústria do turismo. É hora de união!

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