6.6.10

Pelourinho: Na briga política da Bahia, Pelourinho é que sofre

SALVADOR. É tarde de segunda-feira e os termômetros do Pelourinho, no Centro histórico de Salvador, marcam 29 graus. Sentado ao lado do prédio da antiga Faculdade de Medicina da Bahia, o artista de rua e artesão Vicente Neto, o Neto dos Bonecos, de 41 anos, lamenta:
- Há seis, sete anos, com o sol do jeito que está hoje (ontem), isso aqui ficava cheio de turistas. Mas, agora, é só um vazio.
Cria do Pelô, como são chamados na intimidade os mais de 400 casarões e igrejas situados onde a capital baiana começou, o artista especializado no teatro de bonecos reflete o sentimento expresso na estreia de Caetano Veloso como colunista do GLOBO. Em artigo publicado domingo, o cantor e compositor desabafa sobre o abandono a que foi relegado um dos mais importantes cartões-postais da cidade.
As críticas feitas ao modo como o governo petista vem tratando o Pelourinho encontraram eco nos setores que gravitam em torno dele. Intelectuais, artistas, comerciantes, administradores públicos, além de turistas e moradores que já conhecem o lugar, deram a Caetano o tom da unanimidade, uma melodia que ele quase nunca alcança.
- Foi uma análise crítica que mostra claramente a situação que o Pelourinho se encontra. O papel do estado tem que ser de fomento. Quando se trata de um patrimônio como esse, é preciso esquecer a política partidária - diz o subprefeito do bairro, José Augusto de Azevêdo Leal.
Conhecedor do caleidoscópio sociocultural que caracteriza o Pelô, com 50 décadas de vivência no coração do Centro Histórico de Salvador, Leal se refere ao que a oposição ao PT no estado, encabeçada pelo DEM e PSDB, considera a origem do problema: a tentativa de destruir os símbolos da política carlista.
Pérola do terceiro governo do polêmico político baiano Antonio Carlos Magalhães (1990-1994), o Pelourinho passou por um grande processo de revitalização. A reforma do bairro, elogiada no artigo de Caetano, desafeto do senador morto em 2007, transformou o Pelô no ponto mais visitado de Salvador na década de 90, segundo dados da Bahiatursa, órgão estadual responsável pela indústria do turismo.
O governo do estado, através de sua assessoria, negou qualquer tentativa da administração Jaques Wagner de sepultar o cartão-postal.
- O processo de revitalização feito pelo governo ACM se mostrou errado do ponto de vista econômico e social. Tiraram o aspecto de habitabilidade do local, o que se revelou ineficiente ao longo dos anos. O governo do estado reconhece o direito à manifestação de Caetano Veloso, mas não admite que tenha abandonado o Pelourinho. Há uma série de melhorias em andamento.
O Secretário estadual de Cultura, o diretor de teatro Marcio Meirelles, citado no artigo, preferiu não comentar as críticas do cantor, de quem é amigo. No entanto, listou investimentos feitos por sua pasta para evitar o esvaziamento da área.
Em 2010, segundo a Secretaria Estadual de Cultura, foram injetados R$ 2,4 milhões para atrações artísticas no programa cultural Tô no Pelô, na tentativa de devolver público ao local. Contudo, dos 76 casarões previstos para serem restaurados no Programa Monumenta, através do governo federal, apenas seis foram recuperados.
O presidente da Associação dos Comerciantes do Centro Histórico, Lener Cunha, encomendou uma pesquisa na qual, segundo ele, 97% dos mais de cem lojistas do Pelourinho se dizem insatisfeitos com a postura do atual governo.
- Até os incentivos fiscais, como redução de ISS, não foram cumpridos - afirma.
Segundo o subprefeito Leal, os comerciantes se queixam do que consideram descaso do poder público com o setor.
- Eles, de fato, vêm muito aqui se queixar da falta de segurança, do baixo movimento, da falta de uma programação cultural que sustente o movimento, da quantidade de mendigos e garotos de rua que assediam turistas. E tudo não é uma questão de dinheiro. É de atitude, de atitude - repete.

Nenhum comentário:

Postar um comentário