10.6.10

Marcio Meirelles fala da revitalização do Pelourinho


Em entrevista a Rádio Agecom –  Bahia, o secretário da Cultura Márcio Meirelles fala da importância de revitalizar o Pelourinho.
Foto: A Tarde
RA: Secretário Márcio Meirelles, qual a análise que o senhor faz do estágio atual do Pelourinho?
Márcio Meirelles
Na verdade é uma questão cultural e é uma questão que interessa aos vários entes governamentais. É uma área da cidade, mas é uma área tombada, e o que acontece é que a gente percebe que os principais problemas e as soluções para o Pelourinho não estão no Pelourinho, tem parte deles que está no Pelourinho, mas está em seu entorno: no Gravatá, na Ladeira da Independência, na Ladeira da Montanha… Tem muitos problemas sociais que evidentemente convergem para o Pelourinho porque é aonde tem turismo, é aonde tem a possibilidade de ganhar algum dinheiro. Então, as pessoas vão pra lá vender coisas, enfim, é um comércio informal não qualificado. Nesses empreendimentos comerciais você às vezes não tem uma boa qualidade de serviço, não tem uma divulgação do próprio comerciante, você tem uma divulgação genérica que é o governo quem faz. E a principal atração de pessoas para freqüentarem o Pelourinho se dá através dos shows, e não através dos serviços que o Pelourinho pode representar.
RA – O presidente Lula e o governador Jaques Wagner lançam nesta quinta(10) um Plano de Reabilitação do Centro Antigo de Salvador. Como nasceu esse plano?
Mário Meirelles
Esse plano foi feito de uma forma participativa, prevê ações até 2014 e envolve recursos até lá um orçamento de entorno de R$ 627 milhões, dos quais, R$ 207 milhçoes já estão captados ou em aplicação nos vários projetos, reformas e nos vários programas que estão sendo implementados lá pelo próprio governo. São 14 proposições, parte dessas ações é da Prefeitura, outra parte de outras secretarias, outras proposições e outras ações dos ministérios. Tudo isso mostra que é preciso uma convergência de ações e de forças para que dê certo. É importante que a gente sinalize que tudo isso foi feito em parceria com a UNESCO e tivemos consultores internacionais. Eles acham que a gente pode ser um modelo, e a prova disso é que o plano foi premiado pela Caixa Econômica Federal de melhores gestões locais, e agora concorre em Dubai a um plano internacional de gestão local.
RA – Mas há muitas queixas de abandono do Pelourinho. O senhor reconhece esse abandono?
Márcio Meirelles
O governo não abandonou o Pelourinho, principalmente o governo Jaques Wagner não abandonou, ao contrário, nós melhoramos os museus, ampliamos os museus, ampliamos a programação, intensificamos a programação artística e cultural. Estamos articulando também convênios com várias outras entidades como a Junta Andaluzia para reformar três prédios e ser residência universitária. Com a Conder a gente fez o projeto da Rocinha, um projeto habitacional que também ganhou um prêmio. Tem três centros comunitários, uma cozinha comunitária, uma biblioteca e um estúdio multimídia e uma fábrica de instrumentos. Ali já tem uma vida, já tem um pensamento também de sustentabilidade e inclusive de atividades de formação para a juventude.
Então é isso, a gente tem trabalhado intensamente e a lista é grande de ações que a gente já fez e que vem a fazer e que estão definidas pelo plano como necessidades emergenciais ou a médio prazo ou a longo prazo, E eu acho que até 2014, com a implementação do plano, a gente tem um centro antigo, em uma cidade como Salvador, revitalizado, sustentável, bom para morar, para frequentar, para trabalhar, para viver, que é a nossa meta.
RA – Revitalizado, então, em ano de Copa do Mundo…
Márcio Meirelles
Pois é… A idéia é essa: até a Copa do Mundo a gente ter um centro da cidade preparado para receber o fluxo de gente, de turista que a gente espera. Mas não é uma coisa feita só para o turista, é um processo feito principalmente para o baiano, para o soteropolitano frequentar aquilo ali, viver… E enfim, ter aquilo como um eixo de desenvolvimento, como um instrumento de desenvolvimento social e econômico da Bahia, e da cidade de Salvador.
RA – Mas, na prática, o que tem sido feito para manter vivo o Pelourinho, secretário?
Márcio Meirelles
A melhoria da iluminação foi feita, um novo conceito para a utilização das praças mais plural, não só com grandes shows que eram inclusive uma reclamação dos comerciantes, que os grandes shows, os grandes palcos, deterioravam o patrimônio, traziam degradação. Então, a gente focou nas praças e tematizou isso, diversificou para outros públicos, outros gêneros musicais, para exatamente diversificar o tipo de público que vai ali. Para outras linguagens também – teatro, artes visuais, cinema. A gente ampliou a capacidade dos museus, reprogramou os museus, ampliou a área expositiva com novos acervos. No Solar do Ferrão, por exemplo, agora a gente tem quatro acervos lá: de arte africana, de arte popular, de arte sacra e de exposições contemporâneas que vão sendo alteradas. E isso triplicou, por exemplo, a visitação aos museus.
RA – E por que isso tudo que o senhor falou aqui não aparece na mesma dimensão dos problemas do Pelourinho?
Márcio Meirelles
Bom, aí a gente tem que perguntar aos seus colegas porque só focam no problema, né? Evidentemente há problemas, há problemas sociais e problemas que são de outras áreas. Por exemplo, a gente não pode cuidar da limpeza do Pelourinho apesar de ter feito um trabalho sério como articulador com os responsáveis pela limpeza, com os moradores e comerciantes no sentido de educação ambiental. Mas enfim, é uma área em que o Estado não tem como abraçar. O comerciante ambulante, né? O comércio ambulante, informal, a gente não tem como regular isso. E é um dos problemas que são sempre pontos de crítica. A iluminação, nós fizemos a iluminação. O Ipac gastou R$ 1, 6 milhão na requalificação da iluminação, ampliou a iluminação. Foi um trabalho, enfim, notável, que esta lá. Evidente que a iluminação está melhor, mas isso era uma atribuição de outras esferas governamentais. Mas a gente fez e agora a manutenção disso não pode ser só com o Estado. A gente não tem como regular ambulante, a gente não tem como tirar cachorro da rua, não tem tirar mendigo da rua. São atribuições de outras esferas. Para você ter uma idéia, o contrato de manutenção da iluminação pública de Salvador não inclui o Pelourinho.
RA – E a programação cultural de hoje atende ao público que frequenta o Pelourinho?
Márcio Meirelles
Olhe, desde 2007 até hoje, teve mais de 2.210 – isso é um número até abril – apresentações ou atrações, eventos no Pelourinho, para um público aproximado de 750 mil pessoas. Então, eu não entendo realmente de que Pelourinho se fala. Agora, o que a gente pode perceber é o seguinte: em um diagnóstico feito pelo UNESCO, 5% da população de Salvador realmente frequenta o Pelourinho, outros quarenta e poucos por cento vão lá de vez em quanto, uma vez por ano, duas vezes por ano. E em torno de 58% nunca vão ao Pelourinho. Eu acredito que isso é dito, e vira um mantra, por pessoas que não frequentam o Pelourinho, que não vão ao Pelourinho e que tem uma informação de que o Pelourinho está esvaziado e repetem isso, e isso fica virando “uma verdade”, quando não é verdade. Enfim, a gente tem gravação, tem foto, tem tudo que mostra que prova que o Pelourinho está bastante ativo. As atrações culturais do Pelourinho estão sempre levando muita gente pra lá, fora o São João, o Carnaval, e o Natal que têm programação específica. Mas durante o ano inteiro tem uma constância de público no Pelourinho. Nós mudamos também a forma de ocupação das praças. A gente fez editais com ampla concorrência e os artistas e projetos que apresentam produtos consistentes podem ocupar as praças. Tem projetos lá funcionando muito bem, pois o Pelourinho está assistido, está contemplado com ações artísticas e culturais o tempo inteiro. Quero também dizer que esse centro antigo já é uma referência assim como esse plano já é uma referência. Está publicado e vai ser entregue no dia 10 com a reforma do Palácio Rio Branco, pelo governador Jaques Wagner e pelo Presidente Lula. Tem uma relevância nacional esse plano, não é uma coisa pequena. Então, é importante que a gente tenha também, todos nós tenhamos interesse, de que isso dê certo, e para convergir nossas energias e nosso trabalho para o sucesso do empreendimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário