17.8.09


BA: Caminhada para orixá das doenças reforça sincretismo em Salvador

Há 11 anos, a Caminhada Azoany reúne o povo de santo no dia da festa católica de São Roque. Todo ano, os adeptos da religião africana percorrem os seis quilômetros que separam o Pelourinho, no centro de Salvador, e a Igreja de São Lázaro, no bairro da Federação.Além do sincretismo com São Roque, Azoany é uma das denominações jeje para o Orixá Obaluaê, divindade do candomblé ligada às doenças e à cura.
- Vestidos de Branco, sejam elas de roupas de baianas, camisas confeccionadas para a Caminhada ou roupas escolhidas a dedo para o evento, com balaios de pipocas na cabeça, ramos e buquês de flores (para colocarem na Igreja), embalados ao som dos atabaques e agogôs (afoxé), percorrem o Pelourinho em direção ao Campo Grande adentrando as ruas que levam ao Bairro da Federação até a Igreja de São Lázaro, onde todos os participantes entendem como comprida naquele ano a sua reverencia as entidades religiosas - conta Albino Apolinário, 45, organizador da caminhada e Ogã de Nanã.
Embora a Caminhada Azoany seja uma atividade específica do povo de santo, todos reconhecem a importância do sincretismo para a atividade. “É um Encontro muito bonito, quando a procissão católica está saindo e o candomblé está chegando. Tudo na mesma igreja (São Lázaro)”, diz Apolinário.
Azoany é o nome jeje para o Orixá Obulaiê, que no sicretismo corresponde a São Roque
Azoany é o nome jeje para o Orixá Obulaiê, que no sicretismo corresponde a São Roque
- O sincretismo nasce quando os escravos eram obrigados a cultuar os santos Igreja Católica. Eles cuidavam do altar do santo e, embaixo, faziam assentamento para Ogum e outros orixás. A Lavagem do Bomfim nasce do pessoal do candomblé que ia para a Igreja fazer oferendas a Oxalá. O sincretismo teve como resultado a tolerância entre as duas religiões - acrescenta o organizador da caminhada.
Este ano, a Caminhada Azoany foi precedida por debates sobre a religiosidade afro-brasileira, realizados nos dias 13 e 14, na Casa do Benin.
No domingo (16), Dia de São Roque, a jornada começa com uma missa em favor da caminhada na Igreja do Carmo (Pelourinho), sede provisória da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Em reforma, a Igreja do Rosário dos Pretos não pode acolher a cerimônia como de costume.
Concentração na Praça do Reggae
Concentração na Praça do Reggae
Em seguida, os integrantes preparam a caminhada com oferendas e uma concentração na Praça do Reggae, também no Pelourinho. Às 13 horas, embalado pelo afoxé Korin Efan, o cortejo sai em direção à Igreja de São Lázaro.
“Participam da caminhada pessoas de todas as idades. Desde o meu filho de três anos até o seu Martins, de 77 anos, que foi o criador da atividae”, diz Apolinário.
Primeiro a fazer o percurso, há 44 anos, seu Martins, morador antigo do pelourinho, pagava uma obrigação religiosa. Desde então, não houve um ano em que deixasse de cumprir o ritual.
Rituais do candomblé acontecem na concentração e ao longo do percurso
Rituais do candomblé acontecem na concentração e ao longo do percurso
O evento mudou de nome quando passou a ser organizada pela Associação Comunitária Alzira do Conforto, em 1998. Ganhou o nome atual por conta de uma conversa entre os organizadores e a Yalorixá Mãe, que apresentou-lhes as diversas denominações para o Orixá das Doenças.
- Este ato passou a ser realizado de maneira contínua e no último ano teve a participação de duas mil pessoas de todas as classes e epidermes - afirma, espirituoso, Albino Apolinário.
(fotos: Associação Comunitária Alzira do Conforto/ Divulgação)

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