23.8.09

Pelourinho - Ah Bahia !


Ah Bahia!

Das alturas, Joel pesquisa as ruas. Os olhos mergulham nos decotes das baianas que passam. Joel da-me cotoveladas. A cara, ainda carregada de borbulhas adolescentes, ri de entusiasmo hormonal. Sento-me com ele e ficamos a janela em descarada contemplação.
As pessoas caminham nas ruas empedradas de Historia e o caminhar ganha um balanço irregular - o balanço doce de Salvador. O gingar ao subir as ladeiras ingremes. O cuidado ao descer na volta, os braços abertos e os pes a travar os chinelos que escorregam nas pedras polidas por muitos anos. Estas ruas têm a cultura da mistura de culturas. É a irreverencia das pretas baianas, dos folhos coloridos em contraste com a pele escura, saias e saiotes, verdes encarnados azuis amarelos brancos de ferir os olhos, cores fortes fortes fortes. Fartas mulheres, fartos braços, fartas pernas que dançam ao som dos berimbaus, o som da batida dos tambores das rodas de caporeira, do suor que salpica dos troncos musculados, os movimentos tesos de força, o suor que cai no chao e escorre pela calçada branca. Debaixo das saias, as pernas mexem-se ao som do maculelê, do cadomblê e dos orixás, nessa fé herdeira dos escravos pagãos do Pelourinho (Pelô, para os mais intimos) e dos europeus colonizadores, cristãos sobretudo, que espalharam as suas religiões em sumptuosas igrejas de talhas douradas e santos divinizados. Mexem-se com o Elevador Lacerda que sobe e desce em Arte Deco e liga a cidade alta e a cidade baixa a todas as horas que somam um dia. Ao som do Mercado Modelo e do seu intenso comercio. Das ondas que rebentam nas praias que vêm ver o por do sol na Baia de Todos os Santos. As praias que vão da Igreja do Bonfim até à Barra, onde se erguem os fortes e farois da cidade, mas depois do farol ha mais praia, praia até mais não, é Itapuã onde é bom "passar uma tarde em Itapuã, ao sol que arde em Itapuã, ouvindo o mar de Itapuã, falar de amor em Itapuã". Os pintores que preenchem telas em pinceladas pouco originais, mas ainda assim tão apelativas. As filmagens de mini-series, os cabos que passam, as camaras que passam, as equipas que passam, a produção que encontra nestes cenários a evocação de outros seculos. As pernas das baianas dançam debaixo das saias, na antecipação das noites de terça-feira, a noite em que tudo e possivel, noites de Olodum e Ilê Aiyê e loucura hedonistica. Movem-se com os raspadores que raspam as ervas que crescem nos passeios. Os pedintes que forçam olhos tristes e lagrimas que caem de forma estudada, seguem os turistas que se ajoelham para fotografar uma imagem que so foi fotografada umas outras milhões de vezes, numa diferença de riquezas que nao deixa indiferente. É o Jorge Amado à conversa com Dona Flor à porta da Igreja de S. Francisco. As baianas dançam porque em Salvador da Bahia tudo vibra numa musicalidade que permeia os dias e as noites e nao descansa. Contagiante! As baianas dançam porque sabem que nao podem não o fazer, não há como resitir.

Joel bate o pe. Tambem ele nao resiste. Dá-me uma cotovelada e deixa cair o olhar que se aninha em mais um decote saltitante.
Ah Bahia!
Bahia, Bahia, Bahia, Bahia, Bahia...
Viva os amigos com maquinas que ainda trabalham e permitem mandar um cheirinho da viagem até casa!
As baianas do Terreiro de Jesus, pleno centro do Pelourinho

A terça-feira a festa é de loucura. O video e demasiado pesado para carregar, mas garanto o suor e calor desta noite!
Israelitas donos de pizzarias e vinhas; Ingleses que sem trabalho por causa da crise resolvem nao ficar deprimidos; mais israelitas, cientistas na area do cancro da pele em Boston, com um phd em Harvard debaixo do braço e uma jovialidade aos trinta e cinco anos que deixa arrumados muitos de nós com vintes; sociologos alemães, australianos das artes, brasileiros da capoeira - nos nossos dias o mundo e pequeno, mas cabem nele pessoas tao diferentes e que vale mesmo a pena ouvir, conhecer!

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