sexta-feira, 5 de janeiro de 2007
Cultura para o povo da Bahia
publicado hoje no jornal A Tarde
REPÓRTER: CECI ALVES
A manhã de ontem na Rocinha, no Pelourinho - atual Comunidade Vila Esperança -, foi mesmo atípica: primeiro, caiu uma chuva forte que amoleceu a lama dos barrancos que dão acesso às casas no local.
Depois, essa lama foi pisada e revirada pela classe artística e cultural baiana, que compareceu em peso para o anúncio/posse do staff que trabalhará com Marcio Meirelles na linha de frente da Secretaria da Cultura estadual.
Nunca a Rocinha viu movimentação igual - um bando de engravatados, câmeras e máquinas fotográficas e até a primeira-dama do Estado, Fátima Mendonça, tomaram de assalto o bucólico local. E o estranhamento foi geral: dos moradores, que riam discretamente dos escorregões que as "otoridades" tomavam no barro fresco; das pessoas que nunca haviam ido ali e faziam cara de paisagem, tentando se misturar aos locais; e daqueles que se questionavam por que aquele anúncio estava sendo feito ali, no desconforto dos pés sujos de lama sob o sol do meio-dia.
Para responder a essa pergunta, Marcio - esse, sim, parecia um morador local no meio da Rocinha e daquele barro todo - tinha a resposta na ponta da língua : "Essa comunidade, aqui, é autoridade para nós, que será ouvida como as outras autoridades presentes", disse ele, no seu discurso de abertura, dando a tônica do futuro de sua atuação como secretário.
"FUNCIONÁRIO PÚBLICO" - "Vamos, a partir de ações como estas, entender o governo não como o outro lado, mas como a extensão da sociedade", disse Meirelles, em entrevista exclusiva que concedeu ao jornal A TARDE, antes da apresentação da sua equipe, que chamou de "time dos sonhos".
"Eu me entendo como funcionário público, me entendo, agora, como empregado do Estado", afirmou."Estou aqui para servir ao Estado, organizando a área de cultura, fomentando, propondo e criando políticas públicas, criando uma legislação para a atividade", resumiu, no ar condicionado da sala de reuniões da administração do Teatro Castro Alves, horas antes de, com seu belo paletó de risca de giz, suar como um cuscuz debaixo do sol inclemente da Rocinha.
Prosseguindo na explicação da escolha pelaRocinha, ele disse: "Eu achei emblemática. Pensei em vários lugares. Mas o Pelourinho é emblemático e esse governo entende que a questão do Pelourinho (reforma e utilização do espaço) é uma questão de cultura, não é só uma questão de obra, de construção.E, também, lembrei de que, quando estava filmando Ó Paí Ó [filme baseado em um texto dele], tinha uma cena em que garotos fogem da polícia e entram num beco. Então, Monique [Gardenberg] quis fazer eles entrando num beco que dá na Rocinha. E uma moradora, Dona Nilzete, foi saber do que se tratava e, quando soube que era isso a cena, não deixou entrar, nem filmar. Falou que estava cansada de mostrarem a comunidade dela como uma comunidade de marginais".
PELÔ - Ele seguiu: "Eu a achei absolutamente correta e pensei: agora, que sou secretário, e posso um pouquinho mais do que um diretor de um grupo de teatro, devo levar o olhar da cidade, o olhar do governo sobre essa coisa invisível, no centro da cidade. Então, foi simbólico nesse sentido".
Ainda na entrevista, Marcio se debruçou sobre questões cruciais, como a conclusão da sétima etapa da reforma do Pelourinho, muito anunciada mas nunca concluída. Ele garantiu que, nesta gestão, ela sai. E que, agora, isso será da jurisdição do Ipac. "Esse assunto está na Conder".
"Mas a idéia, agora, é que a liderança desse processo passe para o Ipac. A Conder vai continuar, provavelmente, executando as obras, mas a responsabilidade da liderança passa para a Cultura, porque é uma questão cultural", garantiu.
Foto: Fernando Vivas
REPÓRTER: CECI ALVES
A manhã de ontem na Rocinha, no Pelourinho - atual Comunidade Vila Esperança -, foi mesmo atípica: primeiro, caiu uma chuva forte que amoleceu a lama dos barrancos que dão acesso às casas no local.
Depois, essa lama foi pisada e revirada pela classe artística e cultural baiana, que compareceu em peso para o anúncio/posse do staff que trabalhará com Marcio Meirelles na linha de frente da Secretaria da Cultura estadual.
Nunca a Rocinha viu movimentação igual - um bando de engravatados, câmeras e máquinas fotográficas e até a primeira-dama do Estado, Fátima Mendonça, tomaram de assalto o bucólico local. E o estranhamento foi geral: dos moradores, que riam discretamente dos escorregões que as "otoridades" tomavam no barro fresco; das pessoas que nunca haviam ido ali e faziam cara de paisagem, tentando se misturar aos locais; e daqueles que se questionavam por que aquele anúncio estava sendo feito ali, no desconforto dos pés sujos de lama sob o sol do meio-dia.
Para responder a essa pergunta, Marcio - esse, sim, parecia um morador local no meio da Rocinha e daquele barro todo - tinha a resposta na ponta da língua : "Essa comunidade, aqui, é autoridade para nós, que será ouvida como as outras autoridades presentes", disse ele, no seu discurso de abertura, dando a tônica do futuro de sua atuação como secretário.
"FUNCIONÁRIO PÚBLICO" - "Vamos, a partir de ações como estas, entender o governo não como o outro lado, mas como a extensão da sociedade", disse Meirelles, em entrevista exclusiva que concedeu ao jornal A TARDE, antes da apresentação da sua equipe, que chamou de "time dos sonhos".
"Eu me entendo como funcionário público, me entendo, agora, como empregado do Estado", afirmou."Estou aqui para servir ao Estado, organizando a área de cultura, fomentando, propondo e criando políticas públicas, criando uma legislação para a atividade", resumiu, no ar condicionado da sala de reuniões da administração do Teatro Castro Alves, horas antes de, com seu belo paletó de risca de giz, suar como um cuscuz debaixo do sol inclemente da Rocinha.
Prosseguindo na explicação da escolha pelaRocinha, ele disse: "Eu achei emblemática. Pensei em vários lugares. Mas o Pelourinho é emblemático e esse governo entende que a questão do Pelourinho (reforma e utilização do espaço) é uma questão de cultura, não é só uma questão de obra, de construção.E, também, lembrei de que, quando estava filmando Ó Paí Ó [filme baseado em um texto dele], tinha uma cena em que garotos fogem da polícia e entram num beco. Então, Monique [Gardenberg] quis fazer eles entrando num beco que dá na Rocinha. E uma moradora, Dona Nilzete, foi saber do que se tratava e, quando soube que era isso a cena, não deixou entrar, nem filmar. Falou que estava cansada de mostrarem a comunidade dela como uma comunidade de marginais".
PELÔ - Ele seguiu: "Eu a achei absolutamente correta e pensei: agora, que sou secretário, e posso um pouquinho mais do que um diretor de um grupo de teatro, devo levar o olhar da cidade, o olhar do governo sobre essa coisa invisível, no centro da cidade. Então, foi simbólico nesse sentido".
Ainda na entrevista, Marcio se debruçou sobre questões cruciais, como a conclusão da sétima etapa da reforma do Pelourinho, muito anunciada mas nunca concluída. Ele garantiu que, nesta gestão, ela sai. E que, agora, isso será da jurisdição do Ipac. "Esse assunto está na Conder".
"Mas a idéia, agora, é que a liderança desse processo passe para o Ipac. A Conder vai continuar, provavelmente, executando as obras, mas a responsabilidade da liderança passa para a Cultura, porque é uma questão cultural", garantiu.
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